27 maio 2021

A BIBLIOTECA PÚBLICA MUNICIPAL DESEMBARGADOR EDGAR PEDREIRA

Texto de Antonio Carlos Popinhaki


Hoje escrevo sobre a importância da nossa Biblioteca Pública Municipal. Lembro aqui dos meus tempos de menino, quando tinha que fazer pesquisas em livros e enciclopédias existentes somente nas bibliotecas, principalmente a municipal, visto que para adquirir as coleções de livros era necessário para a família de qualquer estudante, gastar um valor elevado. Somente os alunos mais afortunados e de famílias abastadas tinham condições de possuir em suas casas enciclopédias como a Barsa, Larousse Cultural, Conhecer, Ciência Ilustrada, Vida Íntima, Os Bichos, Enciclopédia do Estudante, Trópico e Urupês, entre as principais e mais famosas.

Isso não faz muito tempo, na verdade, poucas décadas. Era difícil, pois não havia os recursos encontrados hoje, como por exemplo, "de copiar e colar". Na Biblioteca, o aluno precisava geralmente da ajuda da bibliotecária. Depois de ter o contado com o conteúdo apresentado pela mesma, ele tinha que ler o texto, e copiá-lo à mão, de próprio punho num rascunho ou de forma definitiva no seu caderno.

Era necessário fazer isso. Lendo, e copiando... - Tenho convicção de que aprendíamos mais naqueles anos, do que muitos alunos de hoje em dia, que apenas acham o título nos endereços de pesquisa da ‘internet’, copiam e colam, sem muitas vezes, lerem o conteúdo. Por essa razão, mesmo vivendo em tempos da difusão do conhecimento, com todos os recursos disponíveis, já encontrei professores que exigiram dos seus alunos os trabalhos escritos à mão ou de próprio punho, como já escrevi antes. Pelo menos, fazendo assim, o aluno terá que ler o que escreveu.

Na minha opinião, uma das melhores maneiras para o aprendizado do aluno é fazer ele pesquisar, escrever e apresentar o resultado do trabalho em sala de aula. Na apresentação, a professora ou professor poderá acrescentar, promover debate e forçar melhor o interesse pessoal e coletivo.

Bem, hoje quero destinar melhor os meus escritos para a importância da existência da nossa Biblioteca Pública Municipal “Desembargador Edgard de Lima Pedreira”. Mas quem foi esse homem? A maioria dos curitibanenses de hoje, talvez nunca tenham ouvido falar ou não sabem sobre a sua vida.

Pois bem! Ele foi um magistrado que atuou como membro efetivo na composição do Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina na década de 1950. Numa das suas visitas ao interior do estado, passando por Curitibanos na ocasião dos preparativos para uma homenagem do centenário do nascimento do jurista Ruy Barbosa, como Presidente do T.R.E., fez o seguinte comentário ao Dr. Francisco José Rodrigues de Oliveira, na ocasião, Juiz de Direito da Comarca de Curitibanos: “Curitibanos já merece uma Biblioteca Municipal”. Após conversarem sobre o assunto, o magistrado local procurou o então prefeito Salomão Carneiro de Almeida para avançar com a ideia proposta pelo Desembargador.

O prefeito foi convencido e logo aprovou a ideia, colocando em prática e instalando em 5 de novembro de 1949, a Biblioteca Pública Municipal Desembargador Edgar Pedreira. Por razões que não conheço, podendo comprovar pela cópia do documento original, foram suprimidos a letra “d” do primeiro nome (Edgard) e os nomes do meio do Desembargador. A instalação se deu pela aprovação em plenário da Câmara de Vereadores do Projeto n.º 61 e pela Lei Ordinária Municipal n.º 51 de 15 de outubro de 1949. De qualquer forma, o Desembargador foi homenageado com o nome da Biblioteca.

Para organizar o novo estabelecimento numa sala precária nas dependências da Prefeitura, onde hoje está instalado o Museu Histórico Antônio Granemann de Souza, o senhor prefeito contou com a ajuda do Dr. Francisco José Rodrigues de Oliveira e dos senhores: Antônio Signorelli, Aldir Sbravatti, Luiz Balem e Odilon Ribeiro do Amarante.

A solenidade de inauguração ou fundação da Biblioteca Pública Municipal deu-se às 10 horas do dia 5 de novembro de 1949. Aquele foi mesmo um ano especial, Curitibanos fez uma extensa comemoração do centenário do nascimento do jurista Ruy Barbosa e aproveitou para incluir nessa, a inauguração da Biblioteca feita por homens do “Direito”. Essas extensas atividades, além da inauguração da Biblioteca, tiveram:

  • Despertar, com o toque da “alvorada militar” e “rufar dos tambores” feitos pelos alunos do Grupo Escolar Arcipreste Paiva;

  • Missa solene;

  • Exposição das obras de Ruy Barbosa na Câmara de Vereadores;

  • Declamação de versos, feita por alunas do Grupo Escolar Arcipreste Paiva.

  • Romaria à sepultura e homenagem, feita no cemitério, ao Juiz de Direito da Comarca Dr. Pedro David Fernandes de Souza, que faleceu em 6 de dezembro de 1945;

  • Sessão “Magna” apresentada no Cine Teatro Monte Castelo.

No dia 2 de janeiro de 1970, a Prefeitura mudou as suas dependências para a Rua Coronel Vidal Ramos, a Biblioteca acompanhou a mudança e passou a ocupar um espaço nesse novo endereço. Foi no novo local, que eu pesquisava, quando era um estudante do antigo primário e ginásio, na década de 1970. No novo endereço, o acervo composto por milhares de exemplares e títulos de periódicos. Havia um grande número de crianças e pesquisadores em busca do conhecimento. Lembro que às vezes, não tinha lugar para sentarmos, porque as dependências estavam totalmente lotadas. Tínhamos que esperar uma mesa desocupar para podermos fazer as nossas pesquisas de tarefas escolares.

Em 1988, o acervo e a Biblioteca passaram a ocupar as instalações locadas na esquina da Rua Coronel Henrique de Almeida, com a Rua Coronel Vidal Ramos. No ano de 2008 a Secretaria Municipal de Educação mudou de endereço, trazendo a Biblioteca Pública Municipal Desembargador Edgar Pedreira numa sala anexa na Rua Marcos Gonçalves de Farias n.º 427, no bairro São José. Na ocasião, contava com um acervo de 7000 exemplares.

Em breve Curitibanos terá uma nova Biblioteca Pública Municipal a ser instalada na esquina das Ruas Coronel Vidal Ramos com a Heraclides Vieira Borges. Essa terá o nome do ilustre professor David Novak. Foi um grande professor e mereceu a homenagem feita pelo prefeito idealizador José Antonio Guidi em 19 de dezembro de 2017, através da Lei Ordinária n.º 5978/2017.

Apenas a título de conhecimento, o Desembargador Edgard de Lima Pedreira nasceu no estado da Bahia, no ano de 1898, após viver sua vida em Santa Catarina, faleceu no dia 3 de abril de 1952 na cidade de Florianópolis, deixando um legado na magistratura e uma lacuna ainda por preencher. Foi casado com Marina Peixoto Pedreira. Era filho do médico Felipe Machado Pedreira e da senhora Maria Josefina de Lima Pedreira, ambos naturais do estado da Bahia. No seu assentamento de óbito diz que ele não deixou bens e nem filhos.

No ano de 1957, o Governador do Estado de Santa Catarina, Jorge Lacerda, através da Lei 1696/1957 de 7 de agosto de 1957, concedeu uma pensão especial de dois mil cruzeiros à viúva do Desembargador Edgard Pedreira.

Num texto encontrado sobre o Desembargador Edgard Pedreira diz que ele “fundou a ‘Sociedade Amigos de Tubarão’, criando uma Biblioteca naquela cidade. Também criou e presidiu a comissão dos Festejos do Centenário de Tubarão, trabalhando nesse evento, com carinho. Foi um homem simples e bom, era um “coração aberto” em todos os sentimentos. Não tinha inimigos e a todos atendia, quer na função do seu cargo, quer na de cidadão comum. Foi considerado íntegro e reto. As suas sentenças, quando Juiz, sempre foram acatadas pelo Tribunal. Tanto o cidadão, como o Juiz, tinham na figura de Edgar Pedreira, uma alma pura a serviço da coletividade e da Justiça. A cidade de Tubarão tinha no extinto, o seu amor e melhor amigo. Por essa razão, na ocasião da sua morte, causou profunda consternação entre os munícipes que o conheceram. Ele era amigo da imprensa, pois tinha nele, um amigo e um colaborador. Prestou inestimáveis serviços à terra “Barriga-Verde”, ocupando cargos no Ministério Público e na Magistratura Estadual, os quais foram exercidos em diversas Comarcas, invariavelmente com retidão e integridade. O Desembargador Edgard de Lima Pedreira, era uma das brilhantes figuras do Egrégio Tribunal de Justiça, sendo, sem favor, um dos expoentes máximos da cultura jurídica. Em toda a sua carreira, muito enobreceu a toga, proferindo sentenças sábias e humanas, bem compreendendo a moderna concepção do direito”.

Edgard de Lima Pedreira


Referência para o texto:



Biblioteca Pública Municipal Desembargador Edgar Pedreira. Portal Mapa Cultura. ‘On-line’: Disponível em: http://mapacultural.sc.gov.br/espaco/552/


Curitibanos homenageando grandes vultos da história. Jornal Correio do norte. Canoinhas, Ano 3, Ed. nº 110. 13 de outubro de 1949. On line: Disponível em: https://museuhistoricoantoniogranemanndesouza.blogspot.com/2021/06/jornal-correio-do-norte-canoinhas-13-de.html


Curitibanos. Lei Ordinária n.º 5.978/2017, de 19 de dezembro de 2017. Denomina Biblioteca Pública Municipal de Professor David Novak.


Curitibanos. Lei Ordinária n.º 51/1949, de 15 de outubro de 1949. Cria Biblioteca Pública Municipal.


GARCIA, Roosevelt. Antes do Google e da Wikipédia: As enciclopédias do Passado. Portal Veja. ‘On-line’: Disponível em: https://vejasp.abril.com.br/blog/memoria/antes-do-google-e-da-wikipedia/


Museu Histórico Antônio Granemann de Souza. Escritos biográficos. Acervo do Museu Histórico Antônio Granemann de Souza.


Óbito de Edgard de Lima Pedreira. Portal FamilySearch. ‘On-line’: Disponível em: https://www.familysearch.org/ark:/61903/3:1:S3HY-654S-QXD?i=78&wc=MXYB-S29%3A337702501%2C337702502%2C340724801&cc=2016197


Revista Eleitoral. Biblioteca Digital do TSE. ‘On-line’: Disponível em: https://bibliotecadigital.tse.jus.br/xmlui/bitstream/handle/bdtse/3708/1951_composicao_tribunais_eleitorais.pdf?sequence=1&isAllowed=y


Santa Catarina. Lei n.º 1.696/1957, de 7 de agosto de 1957. Estabelece pensão especial às viúvas de Magistrados.


Santa Catarina. Lei n.º 17.201/2017, de 13 de julho de 2017. Consolida a Lei 1.696/1957.


Texto escrito em 1994 sobre o Histórico da Biblioteca Pública Municipal Desembargador Edgar Pedreira, fornecido pela Secretaria Municipal de Educação e Cultura.

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