03 junho 2022

A HISTÓRIA DO ENSINO FORMAL NO PERÍMETRO URBANO DE CURITIBANOS

Texto de Antonio Carlos Popinhaki


O primeiro registro de um ensino formal na antiga vila de Coritybanos foi encontrado quando o local ainda era uma freguesia, pertencente ao território do município de Lages. Através do Ato datado de 17 de novembro de 1864, o Presidente da Província de Santa Catarina, criou uma Escola de Primeiras Letras (instrução primária) para o sexo masculino (LEMOS, 1977, p. 159-160), instalada em Curitibanos em 1865. O prédio dessa escola masculina era construído em madeira, o que para os padrões da época, representava o símbolo do poder oligárquico local. Por essa razão, foi um dos alvos da investida dos caboclos na Guerra do Contestado, incendiado e totalmente destruído em 26 de setembro de 1914.

Depois, encontramos no Jornal República, de Florianópolis, na edição n.º 76, de 3 de abril de 1895, dando-nos conta de que houve a transferência do Professor Público, senhor Gustavo Túlio dos Santos, da Escola do Sexo Masculino da vila de Campos Novos para a Escola do Sexo Masculino da vila de Coritybanos, para exercer as suas funções na arte de ensinar. Essa informação comprova de que nos primeiros anos da república já havia, em Curitibanos a formalização de um educandário apenas para o sexo masculino.

O padre franciscano Frei Gaspar informou-nos em seus registros, que em 1913/1914 havia uma única escola em funcionamento na vila de Curitibanos. Tratava-se da Escola dos Padres, também chamada “Escola Paroquial”. Esse educandário era de natureza particular. Depois de um envolvimento extraconjugal de adultério, o Superintendente Municipal da época, o Coronel Francisco Ferreira de Albuquerque, ao ser repreendido publicamente, por um sermão proferido por Frei Gaspar numa missa dominical, tratou de construir ou reconstruir uma escola pública na vila de Curitibanos, com o objetivo de esvaziar a Escola Paroquial dos padres. Dessa forma, funcionaram, a partir de 1915, em Curitibanos, a Escola dos Padres (Particular) e a Escola Pública. Descrevendo a vila de Curitibanos, tal como era em 1914, ao mencionar tudo aquilo de que ela dispunha, o Tenente Herculano Teixeira d’Assumpção estimou a sua população em 11 mil habitantes e citou a existência de apenas “uma escola pública primária” (ASSUMPÇÃO, 1917, p. 165). 

No “relatório” da sua administração, que se dedicou a ajudar na restauração do município depois da Guerra do Contestado, apresentado ao Conselho Municipal em 2 de janeiro de 1917, o Coronel Marcos Gonçalves de Farias informou dos exíguos recursos financeiros de que dispôs, tendo atendido duas escolas estaduais, essas que seriam, então, as existentes em todo o território municipal, tanto que “termina pedindo verbas para a fundação de escolas em Santa Cecília, Ponte Alta (Norte e do Sul), Perdizes, Trombudo, Cabaçais e Taquaruçu” (LEMOS, 1977, p. 182-183).

A escola pública referenciada pelo Coronel Francisco Ferreira de Albuquerque, começou a funcionar em 1915. A primeira professora nomeada pelo Estado para dar aulas em Curitibanos chamava-se Josefina Amorim. Para ser uma professora, a moça precisava dominar a “leitura, entender de geografia, história-pátria, gramática, escrita, ditado e contas”. Essas eram as atribuições das professoras.

Josefina era uma moça muito bonita, elegante, inteligente e culta. Dedicou-se ao magistério, pois tinha determinação e gostava de ensinar. Após prestar concurso para o Estado de Santa Catarina, foi designada para a vila de Curitibanos, onde ensinou pessoas importantes, como o senhor Sebastião Calomeno, que seria uma das pessoas ilustres de Curitibanos, com destaques culturais, sendo professor, secretário municipal, e advogado. Ele lembrava sempre que aprendeu inicialmente, as primeiras letras, com a professora Josefina Amorim. Ela foi a primeira professora nomeada para ensinar em Curitibanos. Atuou desde 1915 até 1933, quando se aposentou por motivos de saúde.

A jovem professora abraçou a bela e nobre carreira, tendo auxiliado na educação escolar duas ou três gerações de curitibanenses. Aqueles pesquisadores que me antecederam, escreveram que ela era uma professora exemplar, tinha um espírito dinâmico, era lutadora, austera quando necessário, entretanto, era compreensiva e sabia julgar. Ensinava os alunos da escola pública para alunos do sexo masculino, desde as primeiras letras (alfabetização), até a quarta séria.

Para quem é um profissional da área, sabe que dentre os requisitos para ser um bom educador é necessário ter didática e conhecer um pouco de psicologia humana. Josefina Amorim possuía esses dois requisitos. Seus alunos a adoravam, pois, ela conseguia envolvê-los de uma maneira muito peculiar, fazendo-os aprender as lições passadas. Era amiga dos alunos e também dos pais dos alunos. Ela também tinha duas auxiliares que a ajudaram muito, as senhoras, Leonina Varela Almeida e Eulália Proença Rossa, conhecida entre todos pela alcunha de “Lica Rossa”. Essas duas mulheres, também deram uma significativa contribuição para a área educacional de Curitibanos.

Era praticante da fé católica e por essa razão, tinha um bom relacionamento com a maioria das pessoas do seu tempo. Nunca se casou, talvez por opção própria, visto que, por ser uma mulher muito bonita, certamente, não lhe faltaram pretendentes.

Após ensinar em Curitibanos por 17 anos, em 28 de abril de 1932, conforme noticiado numa nota na página 3 do Jornal “República”, requereu seis meses de licença. Na ocasião, a nota do jornal de Florianópolis, ressaltou que ela era a professora da escola pública de Curitibanos. Naquele mesmo ano, no dia 20 de setembro de 1932, requereu mais 90 dias de licença da escola pública de Curitibanos. Parece que a sua situação era difícil, pois no dia 16 de maio de 1933, pela Resolução Estadual n.º 2.473, o Interventor Federal no Estado de Santa Catarina, Aristiliano Ramos, no uso das suas atribuições, resolveu aposentar a professora Josefina Amorim do cargo de “professora da escola pública masculina da vila de Curitibanos”, com os vencimentos anuais de novecentos e cinquenta e oito mil e cinquenta réis (958$050), visto que a mesma foi declarada em inspeção médica, ser incapaz para continuar a trabalhar ensinando as crianças.

Após a aposentadoria, a professora Josefina Amorim voltou a morar na sua terra natal, Lages. Lá, ela permaneceu até o dia 8 de novembro de 1950, quando tinha 63 anos. Faleceu nesta data, foi sepultada no dia seguinte no cemitério público daquela cidade. Os curitibanenses da sua época prestaram homenagens à antiga professora. Alguém escreveu: “Foi professora incomparável, viveu cumprindo a sua missão de educadora, estimada e amada por seus alunos e pelos pais dos mesmos. Deixara a semente da árvore do saber ensinar em boa terra. Tempos depois, a semente germinou, cresceu e multiplicou-se, tornando-a uma Mestra, Guia e Luz. Muito obrigado Josefina! Deus a tenha em um bom lugar”.

Com o incêndio de Curitibanos, ocorrido em 26 de setembro de 1914, a Escola Paroquial foi fechada, permanecendo, portanto, a Escola Pública Masculina em funcionamento. Uma das maiores marcas da gestão do então prefeito Antônio Granemann de Souza (1930 — 1935), foi a instalação, em Curitibanos, da Congregação das Irmãs Franciscanas da Sagrada Família de Maria. O prefeito se reuniu com Frei Justino Girardi para deliberar sobre a possibilidade de Curitibanos abrigar um educandário para o curso primário. Na reunião, com a presença de outras autoridades da época, foram aconselhados a pedir autorização para o Bispo Diocesano Dom Daniel Hostin, com intenções de que em Curitibanos pudesse ser instalado um educandário de prestígio e renome, onde os filhos da terra pudessem estudar conteúdos de qualidade, sendo competitivos com qualquer estudante de outros centros. O pedido do prefeito Antônio Granemann de Souza foi prontamente atendido pelo Bispo, que deu encaminhamento nos trâmites legais da Igreja Católica. Dom Daniel Hostin pediu à Madre Provincial da Congregação das Irmãs Franciscanas da Sagrada Família de Maria da Província do Menino Jesus, com sede em Curitiba, para enviar freiras (Irmãs), para trabalhar em Curitibanos.

Na época, a pequena cidade era muito interiorana e de difícil acesso, as estradas eram rudimentares e quase intransitáveis, a estrada de ferro não chegara até a sede do município, forçando qualquer pessoa a locomover-se em carroças, cavalos e mulas. Alguns, para viajar a outros centros maiores, se utilizavam da ferrovia, que estava a um ou dois dias, conforme o meio de transporte, embarcavam em Capinzal ou em Caçador. Frei Justino Girardi chegou em Curitibanos no ano de 1932 com a finalidade de reabrir a Paróquia, que estava com as atividades quase que paralisadas há mais de uma década, principalmente pela invasão e ataque dos fanáticos, durante o conflito social denominado “Guerra do Contestado”, ocorrido em 26 de setembro de 1914, quando 22 casas da vila foram incendiadas, incluindo a sede da Superintendência Municipal.

A Madre Provincial atendeu o pedido do Bispo, enviou para Curitibanos três Irmãs, elas chegaram na pequena cidade no dia 4 de fevereiro de 1933, vindas de Curitiba, Paraná. Tratava-se das três primeiras Irmãs Franciscanas da Sagrada Família de Maria a se estabelecerem em solo curitibanense. Seus nomes ficaram registrados nos anais da história, não só nos arquivos eclesiásticos católicos, mas também, na história local e regional.

Se chamavam: Irmã Irene Wisniewski, Irmã Felícia Greboge e Irmã Isidora Charnikowska. Tinham como missão, na doutrina católica, de realizar seus trabalhos, servindo a Cristo e à Igreja, conforme os ensinamentos de São Zygmunt Felinski. Quando o padre local, Frei Justino soube da confirmação da vinda dessas freiras, com o povo, preparou uma memorável acolhida. Todos vibraram de alegria, não perdendo tempo em escolher o nome para o novo colégio: “Colégio Santa Teresinha”.

As freiras se instalaram no prédio que era a casa dos antigos padres franciscanos. Com o auxílio da Congregação, iniciaram-se as construções das salas de aula e de um ambiente propício para o funcionamento do grupo escolar. Isso com muito sacrifício, pois na época, não existiam materiais de construção disponíveis, lembrando, que as vias de transporte eram muito precárias, em alguns lugares, sem o mínimo de manutenção.

No mesmo ano de 1933, iniciaram as suas atividades no novo colégio, com a implantação do curso primário de 1.ª a 4.ª série, inicialmente, com 83 alunos. Além do trabalho na escola, essas freiras ajudavam na Igreja e na catequese. A irmã Irene, na ocasião, foi nomeada pela Madre Provincial como a Madre Superiora da comunidade Santa Teresinha, e também, do internato. No colégio, a Irmã Irene trabalhou como professora.

Em 1.º de maio de 1934, com a composição de algumas freiras, assumiu como o primeiro Diretor do novo educandário curitibanense, o “Grupo Escolar Arcipreste Paiva”, desde a data da sua inauguração. A escola funcionou inicialmente, nas instalações de um antigo Teatro Municipal, num casarão de madeira, cedido pela prefeitura para esse fim, na esquina das ruas Coronel Albuquerque, com a Vidal Ramos. Lá, além de diretor, Francisco de Campos foi também professor. Alguns anos antes, ele foi nomeado professor provisório da antiga escola masculina da vila de Curitibanos, em razão da senhora Ernestina Dousfield Cláudio, ter pedido a sua exoneração como professora da época daquela escola. Portanto, ele tinha experiência como educador, estava qualificado para os cargos de professor e diretor.

Tudo parecia fluir rapidamente na carreira profissional de Antonio Francisco de Campos. Em 1933, ele era o Secretário de Administração do prefeito Antônio Granemann de Souza, tendo por hábito prestar contas mensalmente, através da divulgação de balancetes mensais das receitas e despesas da prefeitura municipal de Curitibanos. Julgando ter maior serventia para o Estado, com seus préstimos burocráticos, o governador de Santa Catarina, o senhor Nereu Ramos, através da Resolução n.º 433, emitida em 22 de agosto de 1935, e publicada em 29 de agosto de 1935, resolveu dispensar Francisco de Campos dos cargos de Diretor do Grupo Escolar Arcipreste Paiva e da anexa Escola Normal Primária, da vila de Curitibanos. Através da citada Resolução, foi nomeado Coletor interino da Comarca de Curitibanos.

No início do ano de 1957, foi construído um novo colégio em Curitibanos. Esse educandário recebeu o nome de “Grupo Escolar Professor Antonio Francisco de Campos”. Em 19 de março daquele ano, teve à frente da sua direção, o senhor Walter Nunes, logo depois, a professora Célia de Andrade Lemos. Ela, que esteve afastada da cidade, voltou a lecionar em Curitibanos até o dia 1.º de março de 1957, quando foi designada para responder pela direção do “Grupo Escolar Antonio Francisco de Campos”, permanecendo nesse cargo por dois anos.

A Escola de Educação Básica Casimiro de Abreu foi fundada em 11 de março de 1958, pela “União Pró-Ginásio Curitibanense” e autorizada a funcionar a título “precário” até dezembro de 1958, nas dependências do Grupo Escolar Antônio Francisco de Campos. Essa “União Pró-Ginásio” foi composta por pessoas da comunidade curitibanense, que desejavam complementar a educação dos seus filhos, visto que no município havia apenas o curso primário (do 1.º ao 4.º ano). Muitas famílias não tinham condições financeiras para enviar seus filhos para continuar seus estudos em outros centros urbanos.

O nome “Casimiro de Abreu” foi uma homenagem dada ao poeta do romantismo brasileiro, por sugestão da senhora Auracelia de Andrade Lemos, mãe de Célia de Andrade Lemos, que foi a diretora nessa época.

Para Curitibanos, era um sonho que começou a se tornar realidade, a comunidade desejava que a escola tivesse uma sede própria, principalmente, após a emissão da autorização de funcionamento em caráter definitivo. Em 8 de março de 1962, Célia foi nomeada para assumir a direção do Colégio Secundário Casimiro de Abreu, cargo que ocupou até o ano de 1968, quando pediu demissão por motivos de saúde. Mesmo assim, continuou a ministrar aulas de Português e de Religião até o dia 17 de dezembro de 1976, quando se aposentou.

Em 1957, David Novak, com outros intelectuais da sua época: Emiliano Pinho, Doutor Alderico Burtet e o engenheiro-agrônomo Paulo Londero Sperb, fundaram a “Escola Técnica do Comércio Cardeal Câmara”, inicialmente utilizava o material e os métodos do Instituto Kolber de Curitiba. Em 14 de março de 1958, atuou independentemente, com sistematização peculiar.

A Escola de Educação Básica Altir Webber de Mello, foi fundada em 1967, recebeu o nome do Deputado Estadual Curitibanense Altir Webber de Mello, situado no Bairro Bom Jesus.

Outras escolas surgiram nos anos da década de 1960 e 1970. Entretanto, deram apenas continuidade na arte de ensinar/aprender.



Referências para a produção do texto:



ASSUMPÇÃO, Herculano Teixeira de. A Campanha do Contestado. v. I e II. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1917 e 1918.


LEMOS, Zélia de Andrade. Curitibanos na História do Contestado. Florianópolis: Governo do Estado, 1977.


POPINHAKI, Antonio Carlos. Francisco Ferreira de Albuquerque. ‘Blog’ Curitibanenses. On-line, disponível em: https://curitibanenses.blogspot.com/2018/03/francisco-ferreira-de-albuquerque.html


POPINHAKI, Antonio Carlos. Josefina Amorim. ‘Blog’ Curitibanenses. On-line, disponível em: https://curitibanenses.blogspot.com/2022/02/josefina-amorim.html


POPINHAKI, Antonio Carlos. Irmã Irene. ‘Blog’ Curitibanenses. On-line, disponível em: http://curitibanenses.blogspot.com/2021/10/irma-irene.html


POPINHAKI, Antonio Carlos. Antonio Francisco de Campos. ‘Blog’ Curitibanenses. On-line, disponível em: http://curitibanenses.blogspot.com/2022/02/antonio-francisco-de-campos.html


POPINHAKI, Antonio Carlos. Celia de Andrade Lemos. ‘Blog’ Curitibanenses. On-line, disponível em: https://curitibanenses.blogspot.com/2021/08/celia-de-andrade-lemos.html


POPINHAKI, Antonio Carlos. David Novak. ‘Blog’ Curitibanenses. On-line, disponível em: https://curitibanenses.blogspot.com/2018/01/david-novak.html


TAMBOSI, Frei Valentim. Franciscanos em Curitibanos. São Paulo: Edições Loyola, 1993.

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